domingo, 5 de agosto de 2012

Porto Alegre



Luis:

Primeiro encontro. Porto Alegre tem as melhores baladas do Brasil. Você conhece todo mundo, mas todo mundo finge que não te conhece. Eis os gaúchos. Lá estava eu, sozinho como não me importa estar, escorado numa parede quando ele passou. Eu resolvi que era hora de mudar a abordagem na noite e não estava mais convidando ninguém pra ir para a minha casa, mesmo tendo sido bom. Ele passou. A gente se olhou. Nos pegamos. Tinha sido bom. Mas eu não levei “lanchinho” pra casa aquela noite. Mantive a decisão, pois, se é pra ser teimoso, que eu seja comigo mesmo. Ou cagão. Enfim. Ele era 18 anos mais novo. Resolvi curtir a noite ali e era isso. Só. Trocamos celular, mas não liguei. Nem ele. Claro. Porto Alegre tem as melhores baladas do Brasil.

Segundo encontro. Eu estava no Cabaret, a balada menos pior de Porto Alegre, a cidade que tem as piores baladas do Brasil. O tempo tinha passado, como não me importa quando acontece. Então, ele chegou. Eu o vi descer as escadas, as famosas escadas que viram tobogã quando o pessoal fica bêbado. Fingi que não vi. Todo mundo finge que não vê. Eis os gaúchos. Eis eu. Mas ele me viu e veio direto na minha direção! Ponto de Exclamação. E a gente ficou ali, curtindo e falando bobagenzinhas. Porto Alegre tem as piores baladas do Brasil, mas sempre pode ficar menos pior.

Terceiro encontro. “Agasan” me convidou para ir no Vitreaux no domingo à noite. O nome artista da pessoa é porque ele é quer ser cantor. Ou é. O nome phyno do lugar é porque ele quer parecer de nível. Mas não é MESMO. Eu resolvi ir, porque, afinal, não trabalho de manhã e foda-se a classe média. Fomos a pé, conversando sobre o ep que o “Agasalhan” ia gravar, ou estava gravando, sei lá. No caminho, ele fazia cantorias com voz aguda. Meldeuz. Chegando lá, fui ao banheiro e, na saída, quem eu encontro? Júlio, de bermuda, tênis e camiseta, vindo da tarde no Parque da Redenção. Sei... Começamos a conversar, começamos a nos abraçar e recomeçamos a nos beijar. Sabe? Acabamos a noite no banheiro, com as calças abaixadas. Fodam-se os moralistas e foda-se Porto Alegre também. Esqueci “Asagan”, que depois ficou magoadíssimo comigo por ter sido abandonado.

Quarto encontro. Véspera de feriado de 21 de abril. Fui no Venezianos, o mesmo lugar onde tinha ido na primeira vez. Porto Alegre tem a menor balada do Brasil. A fila era imensa, “Alacasan” apareceu e entramos juntos. Muita gente. Pouco espaço. Júlio estava lá, com amigos. Sei... Fingi que não vi. Aquelas coisas. Mas, depois de um tempo, me aproximei, puxei ele pra mim, eu sou irresistível. Dançamos e subimos para o andar de cima, ainda menor do que o andar de baixo. Tem mesas, dá pra conversar.  Um cara sentou na nossa mesa e não queria mais sair. Tive que engrossar! Olhares with lasers, ele se mandou, eu sou repulsivo. Júlio e eu, nesta noite, saímos juntos da festa e viemos aqui para minha casa. Minha abordagem já era outra. E estava dando certo.

Outros encontros. Daí em diante, começamos a nos ver semanalmente. Marcamos de ir numa projeção de vídeos que ia acontecer na Av. Osvaldo Aranha, em um estacionamento. Não lembro qual era a temática, porque acabamos atravessando o parque e indo comer pizza no “Sabor em Fatias”, “Pizza em pedaços”, “Fatias e pedaços”, eu não sou bom para nomes artísticos. Nem Porto Alegre. Bebemos bastante e conversamos muito e viemos aqui pra casa. Na primeira vez que ele veio direto para cá, sem que a gente tivesse se encontrado em algum outro lugar antes, eu fiz penne com molho de tomate e parmesão e comemos na cama. Foi no oitavo encontro? Não sei mais... Chegamos a ir no Dr. Jekyll, na Casa do Lado, no Wandabar, no Ocidente, no Laika, na Refúgius, no Cine-Theatro, no Bar do Beto, no Pedrini, no Cerillo, no cinema  (“Namorados para Sempre”, horrível!), no Muffuletta, no Boca Loka, no Mr. Magoo, no “Acasalan”, e, de volta ao Cabaret. Lá, ele bebeu demais e queria engrossar com uma menina espaçosa. (Esse é o pior defeito das meninas que freqüentam o Cabaret.) De lugar em lugar, dia depois do outro, íamos indo casa aqui, programas acolá. Construindo histórias e eu achava que as histórias poderiam fazer tudo demorar mais para terminar. Ou não terminar. Porto Alegre é a cidade mais bonita do mundo na primavera. A editora em que ele trabalhava teve um stand na Feira do Livro daquele ano. Ele saia de lá e vinha para cá. Me deu um livro de receitas de presente com a dedicatória: "Para o único mais orelhudo que eu". Eu chamava ele de orelhudo, porque ele imitava um babuíno, fazendo um bico!

Véspera de natal. Tivemos uma conversa. Ele me disse que gostava do que tínhamos, mas que não estava mais tão empolgado como no começo, e que não sabia o que fazer.  Ficamos juntos, tomamos um chopp no bar da esquina à tardinha e nos despedimos no viaduto Otavio Rocha sobre a Borges. Um viaduto é um bom lugar para despedidas. Uma rua vai para um lado, a outra vai para o outro. Porto Alegre não é tão pequena quanto se imagina. Na festa de natal, naquela noite, no Astro Club, eu roubei um beijo dele. Ele retribuiu. Mas já tinha acabado. Nesta noite, beijei mais quatro. Porto Alegre tem bicha demais. E eu precisava rever minha abordagem.

2 comentários:

  1. Tchê gostei muito do texto, recomendado por um amigo meu, foi meu consolo nessa manhã acinzentada. Abraços

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  2. Curto mais a paixão,mesmo que fugaz e efêmera,mas intensa!!! Amor é um saco!!!!

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