Luis:
Primeiro encontro. Porto Alegre tem as melhores baladas
do Brasil. Você conhece todo mundo, mas todo mundo finge que não te conhece. Eis
os gaúchos. Lá estava eu, sozinho como não me importa estar, escorado numa
parede quando ele passou. Eu resolvi que era hora de mudar a abordagem na noite
e não estava mais convidando ninguém pra ir para a minha casa, mesmo tendo sido
bom. Ele passou. A gente se olhou. Nos pegamos. Tinha sido bom. Mas eu não
levei “lanchinho” pra casa aquela noite. Mantive a decisão, pois, se é pra ser
teimoso, que eu seja comigo mesmo. Ou cagão. Enfim. Ele era 18 anos mais novo.
Resolvi curtir a noite ali e era isso. Só. Trocamos celular, mas não liguei.
Nem ele. Claro. Porto Alegre tem as melhores baladas do Brasil.
Segundo encontro. Eu estava no Cabaret, a balada menos
pior de Porto Alegre, a cidade que tem as piores baladas do Brasil. O tempo
tinha passado, como não me importa quando acontece. Então, ele chegou. Eu o vi descer
as escadas, as famosas escadas que viram tobogã quando o pessoal fica bêbado. Fingi
que não vi. Todo mundo finge que não vê. Eis os gaúchos. Eis eu. Mas ele me viu
e veio direto na minha direção! Ponto de Exclamação. E a gente ficou ali,
curtindo e falando bobagenzinhas. Porto Alegre tem as piores baladas do Brasil,
mas sempre pode ficar menos pior.
Terceiro encontro. “Agasan” me convidou para ir no
Vitreaux no domingo à noite. O nome artista da pessoa é porque ele é quer ser
cantor. Ou é. O nome phyno do lugar é porque ele quer parecer de nível. Mas não
é MESMO. Eu resolvi ir, porque, afinal, não trabalho de manhã e foda-se a
classe média. Fomos a pé, conversando sobre o ep que o “Agasalhan” ia gravar,
ou estava gravando, sei lá. No caminho, ele fazia cantorias com voz aguda.
Meldeuz. Chegando lá, fui ao banheiro e, na saída, quem eu encontro? Júlio, de
bermuda, tênis e camiseta, vindo da tarde no Parque da Redenção. Sei... Começamos
a conversar, começamos a nos abraçar e recomeçamos a nos beijar. Sabe? Acabamos
a noite no banheiro, com as calças abaixadas. Fodam-se os moralistas e foda-se
Porto Alegre também. Esqueci “Asagan”, que depois ficou magoadíssimo comigo por
ter sido abandonado.
Quarto encontro. Véspera de feriado de 21 de abril. Fui
no Venezianos, o mesmo lugar onde tinha ido na primeira vez. Porto Alegre tem a
menor balada do Brasil. A fila era imensa, “Alacasan” apareceu e entramos
juntos. Muita gente. Pouco espaço. Júlio estava lá, com amigos. Sei... Fingi
que não vi. Aquelas coisas. Mas, depois de um tempo, me aproximei, puxei ele
pra mim, eu sou irresistível. Dançamos e subimos para o andar de cima, ainda
menor do que o andar de baixo. Tem mesas, dá pra conversar. Um cara sentou na nossa mesa e não queria mais
sair. Tive que engrossar! Olhares with lasers, ele se mandou, eu sou repulsivo.
Júlio e eu, nesta noite, saímos juntos da festa e viemos aqui para minha casa.
Minha abordagem já era outra. E estava dando certo.
Outros encontros. Daí em diante, começamos a nos ver
semanalmente. Marcamos de ir numa projeção de vídeos que ia acontecer na Av. Osvaldo
Aranha, em um estacionamento. Não lembro qual era a temática, porque acabamos
atravessando o parque e indo comer pizza no “Sabor em Fatias”, “Pizza em
pedaços”, “Fatias e pedaços”, eu não sou bom para nomes artísticos. Nem Porto
Alegre. Bebemos bastante e conversamos muito e viemos aqui pra casa. Na
primeira vez que ele veio direto para cá, sem que a gente tivesse se encontrado
em algum outro lugar antes, eu fiz penne com molho de tomate e parmesão e comemos
na cama. Foi no oitavo encontro? Não sei mais... Chegamos a ir no Dr. Jekyll,
na Casa do Lado, no Wandabar, no Ocidente, no Laika, na Refúgius, no Cine-Theatro,
no Bar do Beto, no Pedrini, no Cerillo, no cinema (“Namorados para
Sempre”, horrível!), no Muffuletta, no Boca Loka, no Mr. Magoo, no “Acasalan”, e,
de volta ao Cabaret. Lá, ele bebeu demais e queria engrossar com uma menina
espaçosa. (Esse é o pior defeito das meninas que freqüentam o Cabaret.) De
lugar em lugar, dia depois do outro, íamos indo casa aqui, programas acolá. Construindo
histórias e eu achava que as histórias poderiam fazer tudo demorar mais para
terminar. Ou não terminar. Porto Alegre é a cidade mais bonita do mundo na
primavera. A editora em que ele trabalhava teve um stand na Feira do Livro
daquele ano. Ele saia de lá e vinha para cá. Me deu um livro de receitas de presente
com a dedicatória: "Para o único mais orelhudo que eu". Eu chamava
ele de orelhudo, porque ele imitava um babuíno, fazendo um bico!
Véspera de natal. Tivemos uma conversa. Ele me disse que
gostava do que tínhamos, mas que não estava mais tão empolgado como no começo,
e que não sabia o que fazer. Ficamos juntos, tomamos um chopp no bar da
esquina à tardinha e nos despedimos no viaduto Otavio Rocha sobre a Borges. Um
viaduto é um bom lugar para despedidas. Uma rua vai para um lado, a outra vai
para o outro. Porto Alegre não é tão pequena quanto se imagina. Na festa de
natal, naquela noite, no Astro Club, eu roubei um beijo dele. Ele retribuiu.
Mas já tinha acabado. Nesta noite, beijei mais quatro. Porto Alegre tem bicha
demais. E eu precisava rever minha abordagem.
Tchê gostei muito do texto, recomendado por um amigo meu, foi meu consolo nessa manhã acinzentada. Abraços
ResponderExcluirCurto mais a paixão,mesmo que fugaz e efêmera,mas intensa!!! Amor é um saco!!!!
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