Alex:
A gente se
conheceu numa balada onde vão gays, vão héteros, vão bis e todo mundo bebe,
conversa, dança e não está nem aí pra vida do outro. Eu estava com um amigo,
cujo apelido é “Mãe de Santo”, porque todo mundo na festa parece que não passa
sem vir cumprimentá-lo. O Marcelo foi um deles e foi assim que ele me foi
apresentado. Na hora, eu comentei com o Mãe: “Esse Marcelo é um tesão!” Na
verdade, eu não me lembrava disso, eu já o conhecia. Na noite interior, o Mãe e
eu tínhamos ido na festa de despedida de um cara. Marcelo estava lá e nós nos
falamos um pouco. Como a festa essa estava chata, e eu estava entediado, fui
embora logo. Mas, no dia seguinte, fui direto deixando claro pro Marcelo quais
eram as minhas intenções. Eu não me considero um cara muito charmoso. Há quem
diga, aliás, que meu sex appeal é zero. E pode até ser que sim, não duvido, já
que minha tosca e agropecuária forma de conquistar o Marcelo não deu em nada
naquele início de noite. De repente, eu não sou vaidoso, ele disse que tinha
que ir no banheiro e eu entendi o que isso queria dizer. Tempo depois, me avisa
o Mãe: “Não olha praquele lado de lá!” E eu devolvi: “Já vi!” Naquele lado de
lá, o Marcelo estava aos beijos com um médico da marinha. O Mãe conhecia todo
mundo. As horas foram passando e eu já tinha me dado por vencido naquele noite,
quando, do nada, reaparece o Marcelo, sorridente e lindo, como nada tivesse
acontecido no intervalo de, sei lá, meia hora. Voltou dessa vez, para o meu
prazer, correspondendo, todo em olhares para mim. Eu já disse que não sou
vaidoso, então, começamos a ficar e a festa mudava de cor (pelo menos, para nós).
Me equilibrando na ponta dos pés, eu sou bem mais baixo que e o Marcelo, dois
momentos são muito claros naquela madrugada: eu, por algum motivo, com uma tara
nunca antes sentida, passei o tempo todo brincando com o dedo no umbigo dele, passando
a mão por baixo da camisa de botão que ele vestia. A outra lembrança sou eu beliscando
o Mãe, que estava na mesma parede que nós, ao nosso lado, aos beijos que uma
bichinha vestibulanda, todas sempre loucas por ele.
No fim da noite, convidei o Marcelo
pra vir pra minha casa. A princípio, ele não queria vir. Tinha vergonha de ir
pra casa de alguém desconhecido, mas aceitou quando eu disse que tinha feito
uma torta de maçã, a preferida dele como me contou. Meses depois, me revelou
que, na verdade, aceitou vir por causa da minha cara de pau em convidá-lo,
assim, de supetão... Chegando em casa, Marcelo ganhou muitos pontos comigo ao
pedir para tomar banho. A transa, que aconteceu imediatamente depois, foi
maravilhosa. A segunda, que rolou quando acordamos, melhor ainda. Já era
domingo e, depois de comer a torta de maçã, que era de verdade!, fomos caminhar
na praia e lá ele pegou na minha mão e me deu um beijo! Naquele momento,
brilharam umas estrelinhas que ainda brilham quando lembro desse momento. O
Marcelo era tudo que eu procurava!
O namoro
realmente começou umas duas semanas mais tarde. O Marcelo se formou em Farmácia
e, na formatura, me apresentou para todos os amigos dele. A gente se beijou na
frente de todos que viram, com olhos arregalados, eu brincar livremente no
umbigo dele já, nesse momento, um hábito comum para nós. Me lembro muito bem da
primeira vez que a palavra namoro apareceu com todas as letras. O Marcelo havia
sugerido o nome intermediário de “romance” e eu adorei a proposta no começo. Um
dia, eu estava deitado sobre ele, ele balançando a cabeça pra lá e para cá de
olhos fechados enquanto eu beijava o pescoço, a boca, a bochecha, os olhos, a
orelha, o cabelo e dizendo “meu lindo”, que era como nós nos chamávamos. Foi,
então, que eu deixei escapar: “Meu namorado lindo!”. Ele abriu os olhos,
ficamos alguns segundos nos olhando e, então, nos demos um beijo inesquecível.
Durou quase
dois anos (um ano e onze meses) e terminou por pura falta de afinidade na vida
prática, já que, na vida afetiva, nada faltava. Nem sei se existe mesmo essa
divisão... Eu não saberia dizer exatamente quais são os contornos. Mas sei que
eu e o Marcelo não conseguíamos nos entender sobre pequenas coisas, não
tínhamos nenhum hobbie em comum, e,
muito explosivo, ele me ofendia muito, mesmo que, depois, me pedisse desculpas.
Eu fazia os programas dele com carinho e, é verdade, ele fazia os meus com
carinho também, mas não tínhamos nenhum programa que pudesse ser chamado de
Nosso, mesmo depois de mais de um ano de relacionamento. Era inevitável que,
mais cedo ou mais tarde, começassem os desentendimentos e esses cada vez mais sérios.
Na minha opinião, afinidade e gostos comuns são obrigatórios na vida a dois. Essenciais.
Terminou e, eu
não quero falar disso, em meio a uma briga por algum motivo fútil. Aos berros,
ele me jogou uma raiva da qual eu já estava cansado e saiu batendo a porta com
força. Quando me ligou, eu não atendi. Ligou mais dois dias e eu não atendi. Três
dias depois, eu mandei uma mensagem dizendo eu o namoro havia terminado. Uma
semana depois da briga, organizei as coisas dele sobre a cama do meu quarto de
hóspedes e, enquanto eu estava no trabalho, ele veio buscá-las. A zeladora do
prédio me contou que ele chorou abraçado nela. Dez dias depois disso, marquei
um café, mas ele não apareceu. Com raiva de mim, nunca mais me procurou. E foi
pela raiva sentida por ele que tudo terminou.
Esse foi meu
segundo relacionamento: muito tesão, muito contraste, desafio constante e
cansante. Sinto muita falta dele, mas vai passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário